JOÃO BOSCO | Do Rio a Belém: Os povos em movimento rumo à COP30

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Em 2012, o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi tomado por uma multidão diversa e vibrante: povos indígenas, quilombolas, juventudes, mulheres, ambientalistas, camponeses e trabalhadores urbanos. Ali, durante a Cúpula dos Povos na Rio+20, a sociedade civil global lançava um grito de alerta ao mundo: não haverá futuro sustentável sem justiça social, nem justiça social sem justiça ambiental.

Aquele encontro, realizado paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), consolidou um marco: o protagonismo da sociedade civil frente às falsas soluções do mercado e ao fracasso dos governos em enfrentar a crise sistêmica que afeta o planeta.

Treze anos depois, os povos se organizam novamente — agora, com os olhos voltados para Belém do Pará, onde ocorrerá a COP 30, em novembro de 2025. E mais uma vez, os movimentos sociais não esperam convites oficiais: a Cúpula dos Povos Rumo à COP 30 já está em marcha.

Rio+20: Quando os povos tomaram a palavra

Naquele junho de 2012, a crítica à chamada “economia verde” unificou vozes de todos os cantos do planeta. A proposta dominante, que tentava pintar de verde o modelo econômico destrutivo, foi amplamente rejeitada. Em resposta, a Cúpula dos Povos defendeu a agroecologia, os direitos dos territórios, o Bem Viver, a gestão comunitária da água, da terra e dos bens comuns.

Foi um encontro de denúncias, mas também de esperanças. Um chamado à ação.

COP 30: A Amazônia no centro do mundo

Agora, o cenário é outro — e não apenas no tempo e no espaço. Se a Rio+20 ocorreu num momento de alerta, a COP 30 se desenha num tempo de urgência. O colapso climático já não é uma previsão, é uma realidade. A Amazônia, território onde será realizada a conferência, sofre com o avanço do desmatamento, da mineração ilegal, das mudanças climáticas — e, agora, com a ameaça crescente da exploração de petróleo e gás em áreas sensíveis eestratégicas para o equilíbrio do clima global.

Enquanto governos ensaiam promessas de uma transição energética, parte das soluções apresentadas contraditoriamente empurram os mesmos territórios para novos ciclos de destruição. A expansão da fronteira fóssil na Amazônia se choca frontalmente com os princípios da transição justa, quedeveria priorizar energias limpas, descentralizadas, sob controle social e com respeito aos modos de vida dos povos originários e tradicionais.

Mas a floresta resiste

Ela resiste — por meio dos povos que a habitam, a defendem e a regeneram. Essa resistência se materializa na construção coletiva da Cúpula dos Povos Rumo à COP 30, que emerge a partir dos territórios, das florestas e das águas, com forte presença das juventudes amazônidas, dos movimentos de mulheres, dos quilombolas, indígenas e das comunidades tradicionais.

Dessa vez, a floresta não é só tema: é sujeito político, é voz ativa, é liderança global.

Do Aterro à floresta: O fio da resistência

Há um fio que liga a Rio+20 à COP 30. Um fio tecido com lutas, mobilizações, processos formativos, redes de solidariedade e práticas concretas de transição ecológica nos territórios. O que antes era uma denúncia global, hoje se tornou proposta concreta. Os povos já mostram, na prática, que outro modelo de vida é possível.

A Cúpula dos Povos de 2025 não será apenas uma repetição do passado. Ela carrega a urgência do presente e a esperança de um futuro fundado em outras relações com a natureza, com o trabalho, com o tempo e com o outro.

O tempo é agora

Mais do que nunca, o mundo precisa ouvir — e seguir — os caminhos indicados pelos povos da floresta, do campo, das águas e das periferias urbanas. São eles que vêm sustentando, há séculos, formas de vida baseadas na reciprocidade, no cuidado e na regeneração.

Se a COP 30 tem a missão de negociar metas climáticas, a Cúpula dos Povos tem a missão de lembrar que não há meta mais urgente do que garantir a vida em sua diversidade.

E que não existe transição energética verdadeira enquanto se insiste na exploração de petróleo e gás no coração da maior floresta tropical do planeta.

De 2012 a 2025, os povos caminharam. E agora dizem, em alto e bom som: não haverá justiça climática sem justiça social, e não haverá transição ecológica sem os territórios vivos.

__________________

João Bosco Campos, Jornalista, Administrador. Eng. Agrônomo, Escritor, Poeta, Cronista, Membro da Coordenação Nacional da Rede de Trabalho Amazônico (REDE GTA), Membro da Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (REDE PCTs), Membro Comissão Política da Cúpula do Povos Rumo a COP 30.


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